Nos últimos dois anos um projeto de moto cross elétrica entrou no radar da indústria: EMX Powertrain. A proposta da empresa holandesa é eletrificar a Yamaha YZ 250F. O apoio do braço europeu da fábrica japonesa combinado à maturidade ciclística do modelo base conferiram sustância à empreitada. Agora oficialmente lançada: as primeiras 100 unidades do modelo batizado XF30 estão previstas para entrega no primeiro trimestre de 2023. Preço: €18.750.
A cifra parece salgada ante os €11.900 previstos para a Stark Varg, a “referência teórica” da categoria. E grandezas como potência e capacidade da bateria colocam a XF30 abaixo da rival: são 30 kW de potência (40 cavalos) e o conjunto de baterias tem capacidade de 4.5 kWh. A Varg promete entregar aproximadamente 80 cavalos, e um conjunto de baterias de 6 kWh.
Em termos de potência e armazenamento do conjunto de baterias a EMX XF30 está atrás até daquela que criou e provou factível o conceito de moto cross elétrica: a Alta Motors Redshift, lançada em 2018. O modelo da extinta startup californiana entrega 50 cavalos, energizados por um conjunto de baterias de 5.8 kWh.
Mas números são apenas sinalizadores de performance. Sobretudo quando a atual referência ainda é teórica – Stark sequer entregou as primeiras unidades da Varg. E velocidade nas pistas resulta da sintonia entre ciclística e entrega de torque e potência. A aposta da EMX é conciliar a solidez ciclística da linha YZ ao desenvolvimento do próprio conjunto motriz elétrico.
O foco no conjunto motriz elétrico associa-se também à estratégia como negócio. Acelera o lançamento de novos modelo. E a EMX já comunicou planos para uma moto de rua em 2024.
Os interessados na XF30 já podem realizar a pré-reserva no site da empresa mediante depósito de €950.
YZ 250F e XF30 possuem potências equivalentes – 40 cavalos –, entregues com mais linearidade na versão elétrica. Comparações de torque ainda são inviáveis. O motor da YZ 250F gera aproximadamente 28 Nm, enquanto a EMX informa apenas os 720 Nm de torque na roda traseira – amplificado pela ausência da caixa de marchas.
A comparação com a irmã a combustão não reflete a disputa prevista para o futuro mercado de motos cross. Stark Varg é "teoricamente" a referência. E a abordagem mais segura da XF30 ao adotar a YZ como plataforma num segmento movido por inovação pode restringir o interesse dos consumidores.
Uma das maiores forças de projetos ciclísticos criados do zero para a propulsão elétrica é abandonar legados e convenções dos modelos a combustão. Para conferir liberdade a engenheiros e designers para explorarem novas soluções estruturais e distribuições de massas.
A Stark, por exemplo, o faz ao utilizar o motor elétrico como parte estrutural. O que resulta numa arquitetura de chassi estruturalmente distinta dos parâmetros cross atuais: utiliza menos metal, assim, o chassi torna-se mais leve, porém, sem enfraquecer a rigidez do conjunto.
Outro desafio para XF30 como produto imposto pela eletrificação é a dissolução da segmentação das motos cross por capacidade cúbica. Por meio da seleção de “mapas” é possível tornar o comportamento da Stark semelhante ao uma 250. Portanto, eventualmente posicionar a XF30 como uma 250 elétrica perde sustentação quando a concorrente morfa-se numa configuração equiparável com apenas um toque. E por €6.850 a menos.
Ao longo deste texto a expressão “teórica” repetiu-se algumas vezes ao referir-se à Stark. Motivo: embora técnica e visualmente impressionante, e dos inúmeros elogios feitos por pilotos gabaritados, Stark ainda não entregou as primeiras Varg. Nem disputou corridas com os protótipos. E sobretudo em corridas, na prática, a teoria é outra.
Neste aspecto a XF30 já tem estreia confirmada: o FIM E-Xplorer, em outubro, na França. Campeonato ainda sem participação da Stark.