Em meio ao ronco dos motores na abertura do Mundial de Trial deste ano (Espanha 11 e 12 de junho), Gael Chatagno superava os obstáculos de forma bem menos ruidosa.
Embora exímio no trial, o relativo silêncio do francês não resultava da pilotagem apurada, mas da montaria: Chatagno estava ao guidão da elétrica Epure, fabricada pela Electric Motion.
A estreia do modelo elétrico na categoria Trial2 do Mundial de Trial em meio às motos a combustão representa marco para propulsão elétrica no motociclismo esportivo.
Para atestar o peso apropriado da palavra marco, cabe assinalar: à parte provas ocasionais, as motos elétricas disputavam (os poucos) campeonatos e categorias destinados a este tipo propulsão. Como MotoE e Trial E-Cup – descontinuado este ano.
Em certa medida, a ausência das motos elétricas nos principais campeonatos deve-se à certa fricção imposta por parte dos fabricantes tradicionais. Resumida eufemisticamente por Jean Pena, diretor comercial da Electric Motion: “Não podemos afirmar que recebemos as boas-vindas”.
A chegada da Electric Motion ao Mundial de Trial (TrialGP) sinaliza o possível início de uma mudança de cenário no motociclismo esportivo. Afinal, trata-se da Federação Internacional de Motociclismo (FIM) sancionando e regulamentando a participação de modelos elétricos em todas as categorias num dos campeonatos mais tradicionais.
A lacuna do Trial E-Cup pode ter empurrado um pouco a porta para a Electric Motion no Mundial de Trial. Todavia, Pena enfatiza as metas alcançadas pela empresa ao solucionar os desafios da eletrificação como definitivas à abertura da porta. E crava: “A FIM notou nosso progresso”.
A jornada da Electric Motion rumo ao Mundial de Trial foi longa. Começou em 2014. À época, a empresa almejava demonstrar à FIM a performance dos modelos elétricos. Desde então, paulatinamente, ganhou a confiança da entidade.
Pena atribui a confiança da FIM à solidez da Electric Motion. Fábricas como GasGas e Yamaha têm protótipos elétricos de trial. E outras empreitadas independentes no trial elétrico naufragaram. Fundada em 2009, a Electric Motion é autônoma, sem ligações com uma grande fábrica. Mesmo assim validou-se e sustenta-se como negócio com mais de 4 mil motos entregues.
Pena também contrapõe o histórico da Electric Motion a propostas etéreas vistas ultimamente: “Alguns construtores se autoproclamam construtores, embora tudo o que façam é dominar o Photoshop. Ou, na melhor das hipóteses, apresentam um protótipo sem a menor coerência industrial”.
E é taxativo quanto ao futuro: “Mais de 95% dos projetos vistos nas redes sociais ou em grandes anúncios jamais verão a luz do dia”.
Na visão de Pena, a coesão da Electric Motion fundamentou o espaço no Mundial de Trial. Feito que em tese pode estimular novos fabricantes à modalidade, e abre precedente para outros campeonatos.
Após estrear na Espanha, Chatagno competiu na segunda etapa do campeonato, em Andorra (18 e 19 de junho). O plano da Electric Motion é disputar as demais quatro etapas do calendário. Para fortalecer um valor da empresa, apontado por Pena:
“Méritos exigem conjunto concreto de provas. Como competir nas mesmas categorias, em pé de igualdade, ou até superando as melhores motos a combustão”. O que de acordo com Pena comprovará: “não somos sonhadores, mas pioneiros”.
A terceira etapa do Mundial de Trial será realizada entre 8 e 10 de julho, na Alemanha.